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segunda-feira, 21 de maio de 2012


Atraso na entrega é maior reclamação contra construtoras, diz Procon; veja lista
DE SÃO PAULO
O Procon divulgou o ranking das construtoras que mais tiveram reclamações neste ano.
Até o dia 10 de maio, o órgão recebeu 3.017 queixas, pedidos de orientação e esclarecimento de dúvidas sobre compra de imóveis. Segundo o Procon, o ranking é feito com base em reclamações que precisaram de mediação para resolver o problema.
A empresa com mais reclamações foi a Gafisa/Tenda, seguida por PDG e MRV.
A principal queixa foi sobre atraso na entrega de imóveis. "As reclamações sobre atrasos na entrega estão aumentando e preocupam. Tentamos negociar solução do problema junto às construtoras, mas se isso não for possível as empresas são autuadas pelo abuso", diz o diretor executivo do Procon-SP, Paulo Arthur Góes.
VEJA AS EMPRESAS MAIS RECLAMADAS
CONSTRUTORA
RECLAMAÇÕES
GAFISA/TENDA
131
PDG
57
MRV
46
NOVA DELHI INCORPORADORA
25
ATUA
21
CAPRI INCORPORADORA
12
CURY CONSTRUTORA
12
LIVING
11
BROOKFIELD
9
TRISUL
8
Fonte: Procon
PRINCIPAIS QUEIXAS
§  Não cumprimento do contrato/proposta
§  Dúvidas sobre cobranças (taxas etc.)
§  Cobrança de taxa indevida (elaboração de contrato, aferição de idoneidade etc.)
§  Qualidade da construção (vícios, defeitos, vazamentos, impermeabilização etc.)
§  Devolução de sinal, valores pagos (negocio não concretizado)
OUTRO LADO
As construtoras que lideraram o ranking disseram que estão fazendo investimentos para reduzir os problemas gerados aos clientes. Dizem ainda que as reclamações representam uma fração dos projetos vendidos e entregues em São Paulo.
A MRV disse que as 46 reclamações que recebeu representam apenas 0,0046% do total de clientes. A PDG sustenta que apenas uma parte dos projetos está atrasada e que vai entregar 31 mil unidades até o fim do ano.
A Brookfield e Trisul informaram que estão investindo no atendimento às demandas de clientes.
A Atua e a Living alegaram desconhecimento do conteúdo de todas as reclamações que embasaram o ranking elaborado pelo Procon-SP.
O grupo Gafisa disse que Gafisa e Tenda são empresas distintas e que 85% das queixas referem-se à Tenda, adquirida em 2008, "quando tinha mais de 25 mil unidades atrasadas", das quais mais de 23 mil já foram entregues. "A Tenda esclarece ainda que parte deste volume de reclamações refere-se a cancelamentos de contratos com clientes que não têm o financiamento bancário aprovado, por desenquadramento do perfil financeiro", afirmou.
A assessoria da Cury Construtora e Incorporadora, joint-venture entre a Cyrela e a Cury Empreendimentos, disse que não iria se pronunciar sobre a lista.
Executivos das construtoras Nova Delhi e Capri não foram localizados.

domingo, 20 de maio de 2012


Feirão da casa própria pode não ser tão bom quanto parece

Nesta sexta-feira, chega a São Paulo a 8ª edição do Feirão da Casa Própria da Caixa Econômica Federal munida da sua tropa de vendas, balões, cafés grátis e toda produção digna de um evento publicitário. Tal como nos últimos anos, o evento deverá atrair milhares de potenciais compradores, porém, este ano o Feirão tem um elemento que o torna ainda mais atrativo: a queda dos juros para crédito imobiliário.

Alguns potenciais compradores que visitaram o Feirão da Casa Própria no Rio de Janeiro, declararam não sentir na pele (ou seria no bolso?) a redução da taxa de juros. Mas, afinal, é possível que os tão badalados cortes nos juros não beneficiem o consumidor? Será que milhares de propagandas, atores famosos, mensagem de prosperidade e o discurso da presidente em rede nacional foram em vão?

A priori a redução deveria ser benéfica e com um impacto imediato, uma vez que, as margens de lucro dos bancos no Brasil foram reduzidas de estratosféricas para enormes. No entanto, é necessário observar o comportamento dos preços dos imóveis antes de afirmar se o consumidor será ou não beneficiado pela redução nos juros, ou se a mesma representará uma mera transferência dos lucros dos bancos para as grandes construtoras. De forma bem simples, de que adianta pagar mais barato pelo dinheiro se o preço do bem, no caso o imóvel, estiver muito caro? Será que estamos vendendo a prataria para comprar o almoço?

Suponha que o consumidor pretenda comprar um imóvel com valor de R$ 300.000. Com a antiga taxa de juros de 10% ao ano, o consumidor que pretendesse financiar esse imóvel em 10 anos e sem entrada, pagaria uma parcela mensal de aproximadamente  R$ 3.893.

Se o preço do imóvel permanecer constante, com a nova taxa de juros de 7,9% o consumidor deveria pagar nesse mesmo financiamento uma parcela mensal de R$ 3.581 (i.e, uma diferença mensal de R$ 312,20). O ganho total do consumidor com esse financiamento seria, portanto, de R$ 26.154,.

Porém, o que aconteceria caso o preço do imóvel aumentasse? A medida que o preço do imóvel aumenta esse ganho total do consumidor de R$ 26.154 passa para o bolso das construtoras. Por exemplo, se o preço aumentar para R$ 315.000, o ganho da construtora aumentará em R$ 15.000, enquanto o ganho do consumidor será reduzido nesse montante, para cerca de R$ 11.154.

Perceba que,se o preço do imóvel aumentar em R$ 26.154,12, todos os potenciais ganhos do consumidor serão transferidos para as construtoras e, para qualquer aumento de preços superior a R$ 26.154 o consumidor passará a ter perdas, em vez de ganhos com a nova taxa de juros.

GANHOS E PERDAS COM A REDUÇÃO DE JUROS
Quanto mais sobe o preço dos imóveis, mais os clientes perdem, mesmo com juros menores; nesta simulação, os compradores perdem a partir de R$ 330 mil


Imagine um bolo que deve ser dividido entre banco, consumidor e construtora. Ao reduzir os juros o banco abre mão de uma parte desse bolo e, com isso, sobra mais para dividir entre consumidor e construtoras. Porém, dependendo da “fome” e da “gordice” das construtoras, elas podem abocanhar todo o pedaço de que o banco abriu mão e, nesse caso, o consumidor não seria beneficiado podendo até ser prejudicado pela redução da taxa de juros.

Nesta festa de aniversário, o primeiro pedaço vai para o banco que financia e o segundo para as construtoras. O governo impôs um regime aos bancos, porém o setor imobiliário tem se mostrado faminto e em um regime de engorda com suas altas indecorosas de preço. O consumidor deve tomar cuidado para não acabar sem nada ou com um pedaço bem amargo.

Mesmo antes do início do feirão, partes interessadas no aumento dos preços e de olho na sobra do bolo já começam seu discurso.  Por exemplo, Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo), afirmou que "essa redução dos juros pode ser utilizada de duas formas: quem não conseguia comprar imóvel pode ter o seu imóvel e, agora, quem tiver condição, pode comprar um imóvel 10% mais caro pagando as mesmas parcelas".

Em muitos casos esse “imóvel 10% mais caro” será o mesmo imóvel, só que com o preço 10% superior. No exemplo acima, tal aumento do preço levaria o consumidor para uma situação pior mesmo com a redução dos juros, ou seja, com esse aumento do preço as construtoras teriam um ganho superior ao benefício de R$ 26.154 gerado pelo corte dos juros.

Em suma, o corte das taxas de juros cria um benefício que deve ser dividido entre consumidores e construtoras. A forma que as construtoras têm para se apropriar desse benefício é através do aumento dos preços dos imóveis, propagandas e um batalhão de corretores tentando fazer o consumidor acreditar que a oportunidade é “única”. Vale lembrar que quanto mais os preços aumentarem, menor será a “fatia” que sobra  para o consumidor.

A melhor forma de manter esses preços em patamares razoáveis é estimulando a competição no setor imobiliário e educando o consumidor para que não caia nas “liquidações imperdíveis”. Tarefa que não é tão fácil para o governo, pois este não possui duas ou três grandes construtoras que possa utilizar para forçar uma “guerra de preços” no mercado imobiliário, tal como utilizou a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil para forçar a queda das taxas de juros.

A lógica se aplica também para uma série de outros mercados cujas taxas de juros para financiamentos diminuíram nos últimos tempos, como o mercado automobilístico. Em muitos desses mercados, a falta de concorrência faz com que os produtores possuam um grande poder de mercado que os permite influenciar os preços, de forma a apropriar-se dos benefícios criados pelo corte dos juros.

Se for comprar um imóvel, tenha certeza que o preço que está pagando é razoável, não se deixe levar por impulso ou pelas aparentes barganhas em taxas. Tome cuidado para não deixar sua parte do bolo nas mãos do faminto setor imobiliário.
(* Colaborou Miguel Bandeira, graduando em economia pela EESP-FGV, consultor e conselheiro da CJE-FGV; Samy Dana é PhD em finanças e professor da EESP-FGV)

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